Passando por Cláudia: Ferrogrão pode reduzir o preço dos alimentos no Brasil

Obras da ferrovia poderá ser destravada com a nova lei do licenciamento ambiental

A Ferrogrão (EF-170), projeto de ferrovia de grande capacidade, é considerada uma das obras mais estratégicas para o agronegócio nacional e para a logística do Arco Norte brasileiro. O projeto visa solucionar os graves gargalos de infraestrutura e a sobrecarga do transporte rodoviário, principalmente na rota de escoamento da produção de grãos do Centro-Oeste para os portos do Norte do país.

Apesar de ser vista como um divisor de águas para a competitividade do setor, a Ferrogrão segue atualmente cercada por entraves jurídicos, ambientais e políticos, impedindo o avanço de sua implementação. No entanto, a nova lei do licenciamento ambiental, atualmente no centro do debate político nacional, pode acelerar a obra e destravar os investimentos.

Localização e extensão do traçado da Ferrogrão

A Ferrogrão está planejada para conectar o município de Sinop, no Mato Grosso (MT), ao terminal portuário de Miritituba, em Itaituba, no Pará (PA). Com aproximadamente 933 quilômetros de extensão, a ferrovia tem seu traçado principal ligando o coração da produção agrícola do MT aos portos fluviais do rio Tapajós, na região Norte.

A rota proposta inclui a passagem pelos municípios de:

Cláudia (MT)
União do Sul (MT)
Novo Progresso (PA)
Moraes Almeida (PA)
Miritituba, em Itaituba (PA)

A importância para o agronegócio e logística

O principal objetivo da Ferrogrão é desafogar o transporte de cargas realizado pela BR-163, rodovia que se tornou essencial, mas está sobrecarregada, para o escoamento de safras de soja e milho do Mato Grosso.

O Brasil, embora seja uma potência agrícola, perde grande parte de sua competitividade "da porteira para fora" devido à deficiência na infraestrutura logística. Investimentos em ferrovias são cruciais, já que o transporte rodoviário ainda responde por cerca de 60% das cargas, muitas vezes em estradas com pouca manutenção e insuficientes para o volume de produção.

Redução de custos e competitividade

O projeto promete uma redução significativa no custo logístico, que é o frete pago pelo transporte. Estimativas indicam que a Ferrogrão pode reduzir o custo logístico em 30% a 40% para os produtores do Mato Grosso.

Essa economia bilionária anual com a migração de cargas para os trilhos é essencial para o "Custo Brasil". Ao tornar o frete mais barato e eficiente, a Ferrogrão aumenta a competitividade dos grãos brasileiros nos mercados internacionais, como Ásia e Europa.

Acesso ao Arco Norte

A ferrovia fortalece a logística do Arco Norte, diminuindo a dependência dos portos das regiões Sul e Sudeste, que já operam no limite de sua capacidade. A rota pelos portos fluviais do Tapajós permite que a produção do Centro-Oeste seja exportada com maior rapidez para a Europa e a Ásia (via Canal do Panamá).

A substituição do transporte rodoviário pelo ferroviário traz benefícios ambientais diretos. O transporte por trilhos é mais eficiente e tende a diminuir a emissão de gases de efeito estufa, podendo reduzir a emissão de CO² em até um milhão de toneladas por ano.

Entraves e potencial de crescimento

Apesar de ser reconhecida como um projeto estratégico, a Ferrogrão enfrenta grande impasse socioambiental e legal. A viabilidade do projeto foi suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2021. O centro da controvérsia reside na alteração dos limites do Parque Nacional do Jamanxim, na Amazônia, feita por lei para acomodar o traçado da ferrovia. Setores da sociedade civil e lideranças indígenas argumentam que essa mudança contraria a Constituição e ameaça os direitos dos povos originários e as áreas de preservação.

Mesmo com o impasse, a necessidade da ferrovia é incontestável, visto o potencial de crescimento da produção do Mato Grosso, que deve alcançar 125 milhões de toneladas de grãos e algodão até 2030. A construção da Ferrogrão é vista como a única solução logística capaz de acompanhar o ritmo de expansão do agronegócio no país.

O potencial de investimentos previsto para a Ferrogrão é de R$ 25,20 bilhões (Capex), com prazo de concessão de 69 anos. A obra é esperada para gerar um grande número de empregos diretos e indiretos, impactando toda a cadeia produtiva.

Fonte: Band

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